Especialistas alertam para necessidade de plano individual que ajude os cuidadores informais no desempenho das suas tarefas.
A existência - ou falta dela - de um plano para a pessoa cuidada foi uma das necessidades identificadas nas Teva Talks, uma dupla de conferências que juntou, primeiro no Porto e depois em Lisboa, um grupo de especialistas à volta do tema ‘Quem Cuida dos Cuidadores’. “É essencial que cada um tenha um plano definido e é essencial também que o cuidador informal desempenhe um papel de destaque na implementação desse plano”, refere Rosário Zincke dos Reis, vice-presidente da direção da Associação Alzheimer Portugal e uma das palestrantes no encontro que se realizou em Lisboa, no passado dia 10.
Manuel Caldas de Almeida, administrador executivo e diretor clínico do Hospital do Mar e vice-presidente da União das Misericórdias Portuguesas, concorda, até porque, como reforçou, tendo em conta o aumento das necessidades, “vamos ter poucos recursos e não nos podemos dar ao luxo de os esbanjar. E só com um plano é que isso será possível, um plano interdisciplinar”.
Uma interdisciplinaridade que, de resto, foi muito referida ao longo dos dois encontros, sobretudo por ser, de acordo com os especialistas, uma tarefa difícil, nomeadamente no que diz respeito à articulação entre Segurança Social e Saúde.
Numa altura em que, como refere Maria de Belém Roseira, antiga ministra da Saúde e da Igualdade e que, enquanto tal, procurou dar aos cuidadores informais um estatuto apenas agora reconhecido, “conseguimos viver mais tempo, mas mais dependentes de cuidados de saúde que não sabemos dar e para os quais é necessário treino e prática”, é preciso “ter sensatez a legislar”, o que, na sua opinião, não tem sido uma realidade até ao momento.
“Entendo que o Estado não possa dar o que não tem, mas não pode exigir o que não é exigível. Legislemos bem, ponhamos objetivos para o cumprimento de metas e que cumpram-se os prazos. O que se pede é bom-senso”, refere, numa crítica ao Estatuto do Cuidador Informal, que os palestrantes nos dois eventos são unânimes em classificar como insuficiente.
“Há muito a fazer”, refere Rosário Zincke dos Reis. “O Estatuto ficou muito aquém das expectativas, afunila muito o que ficou consagrado na Lei de Bases. E ficou muito aquém também na implementação - ainda estamos na fase piloto!” A isto juntam-se outras questões: “um cuidador informal tem de ser forçosamente um familiar e sabemos que muitos não são, que há vizinhos, amigos a fazer este papel; é preciso que a pessoa cuidada tenha total dependência e que o cuidador o faça de forma permanente e tem de ter rendimentos muito baixos para ter acesso ao subsídio".
O caminho é ainda longo no sentido de dotar os cuidadores informais das condições para a realização de um papel considerado essencial. E as autarquias podem aqui dar um importante contributo, confirma Isabel Mota, assessora de Laurinda Alves, vereadora de Direitos Humanos e Sociais e da Saúde da Câmara Municipal de Lisboa. Ainda que a capital não disponha, para já, de qualquer apoio específico para os cuidadores, foi concluído um estudo que indica qual o perfil destas pessoas. “Foi feito um levantamento nas 24 freguesias e percebeu-se que os cuidadores informais são, na sua maioria, mulheres, com uma idade média de 47 anos e maioria licenciados”. Dados importantes porque, “quanto mais se souber sobre quem são os cuidadores, mais estratégias podemos desenvolver”.
Podem as autarquias e podem também as farmácias fazer mais pelos cuidadores informais, confirma Ema Paulino, presidente da direção da Associação Nacional das Farmácias. “Sensibilizar para a existência do estatuto e motivar a que as pessoas procurem informações” é uma das formas de o fazer. Mas há mais. “Outra forma de apoio é ter esta perceção de que é preciso cuidar do cuidador. Temos pessoas que começam a estar sobrecarregadas, cansadas e não reconhecem em si próprias muitos problemas. Pessoas que se vão ocupando dos outros e se esquecem de si mesmas. E podemos chamar a pessoa a cuidar de si própria, sensibilizar para a sua própria saúde.” O que é preciso, reforça, é “articulação e partilha de informação” com as farmácias.